quinta-feira, 28 de abril de 2011

MENTE ABERTA NOTÍCIAS- REVISTA ÉPOCA
O RAP VIROU POP
 
Esqueça a militância política. Os novos astros do gênero querem falar é de amor e amizade
 
André Sollitto e Mariana Shirai. Edição: Luís Antônio Giron
Davilym Dourado
Quando se lembra da primeira vez em que entrou num estúdio de gravação, aos 17 anos, o rapper paulistano EMICIDA não se sente muito bem. “Eu era o rapper típico, aquela coisa tradicional: um bicho grilo desconfiado, desagradável e que não falava com ninguém”, diz. A visita ao estúdio na Zona Oeste de São Paulo, uma das regiões com custo de vida mais alto do país, lhe rendeu um estágio não remunerado. “Fui me adaptando. Morava na periferia e foi bom ter de sair dali todo dia”, afirma. Hoje, passados oito anos, Emicida é o destaque maior de um grupo de jovens músicos que tenta romper com os clichês sonoros e temáticos do rap nacional para soprar vida nova ao gênero.
Emicida é destaque de festivais nacionais de peso, como o Urban Music Festival, em maio, do Lupaluna, no mesmo mês, e do Rock in Rio, em setembro. Ele também é um dos participantes da edição atual do Rumos Música do Itaú Cultural, que mapeia novos talentos pelo Brasil. Emicida foi convidado ainda para participar do cobiçado festival americano Coachella neste mês na Califórnia (problemas burocráticos com seu visto, no entanto, podem comprometer sua participação).
Tamanho sucesso é fruto principalmente de uma mudança de atitude em relação ao gênero rythm and poetry (ritmo e poesia, versos falados a partir de uma base rítmica). Seu segundo CD, Emicídio, de 2010, causou um curto-circuito no rap nacional. A certa altura da faixa título, Emicida, até então mais conhecido por sua capacidade “matadora” de vencer concorrentes em batalhas de improviso (daí o apelido), diz: “Quem ganha mais com a miséria?/Os políticos, o Datena ou o rap?”. Comparar o rap com representantes corruptos da nação e com um apresentador sensacionalista pode ter criado desconforto. Mas Emicida diz ter recebido a bênção de alguns de seus maiores representantes, que reinaram no rap de protesto social dos anos 90, como Mano Brown, MV Bill, Marcelo D2 e Rappin’ Hood. “O rap estava muito chato. Só falava de problemas sociais, da favela”, diz D2. “O público não quer ouvir falar só disso. Essa nova cena continua falando de consciência social – que nos anos 90 a gente fazia de um jeito meio terrorista –, mas de maneira menos direta e mais poética.”

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